Publicado originalmente em: https://www.linkedin.com/pulse/20140907171018-2847932-coloque-se-no-seu-lugar-n%25C3%25A3o-no-lugar-do-outro
Há pessoas de quem a gente não gosta, com quem a gente não simpatiza. Não estou tentando fazer com que você se sinta culpado, ou coisa parecida. Isso é normal. Na vida pessoal normalmente podemos escolher nossos relacionamentos. Na vida profissional nem sempre é assim. Muitas vezes há colegas de trabalho, clientes, chefes ou mesmo subordinados com quem a gente não se dá muito bem. Mas temos que trabalhar com eles assim mesmo.
Demorei bastante, em minha vida profissional, pra entender que mesmo quando não simpatizamos com as outras pessoas, temos que fazer um esforço ativo para ter empatia. Isso significa que temos que tentar nos colocar no lugar do outro. Pensar como ele pensa. Sentir o que ele sente. Ver as coisas com o olhar do outro, por sua perspectiva. Entender seus interesses, suas motivações, seus processos mentais.
Ter empatia não implica em concordar automaticamente com o outro. Implica apenas em entendê-lo. Entendê-lo em profundidade. Pense bem, como podemos verdadeiramente discordar de alguém, quanto mais tentar convencê-lo a mudar de opinião sobre algo, ou fazer algo da forma que achamos ser melhor, se nem ao menos entendemos bem seu ponto de vista? E é importante lembrar que muitas vezes é o outro quem está com a razão!
Para algumas pessoas, ter empatia é algo natural. Para outras, é algo bem difícil. Algo que me ajudou ao longo do tempo a melhorar minha capacidade de fazer isso foi entender que as pessoas simplesmente são diferentes, muito diferentes, entre si. Elas percebem e reagem ao mundo ao seu redor de forma diversa. Há, contudo, padrões de comportamento similares entre diferentes indivíduos. Ou seja, é possível, até certo ponto, criar classificações sobre como as pessoas se comportam, sobre seus “tipos psicológicos”, e agrupá-las.
Jung, um dos pais da psicologia moderna, estudou esse assunto e criou uma classificação. Conhecê-la pode ser útil. Pode nos ajudar a entender como as demais pessoas e como nós mesmos agimos. Conhecer e aceitar essas similaridades e diferenças é um importante passo para conseguirmos ser mais empáticos.
Jung define duas atitudes básicas para os tipos psicológicos: Introversão e Extroversão. Nas pessoas Extrovertidas o interesse está voltado para fora: outras pessoas, fatos, objetos. Elas precisam experimentar antes de entender. Os Introvertidos entendem antes de experimentar, escrevem mais facilmente e refletem mais, sua atenção está voltada para um verdadeiro mundo interno de impressões, emoções e pensamentos. Na Extroversão o enfoque está no objeto, na Introversão, no sujeito.
Essa diferença entre Introvertidos e Extrovertidos é fácil de entender, mas não é suficiente. Ainda segundo Jung, as pessoas podem também ser divididas conforme a importância relativa entre algumas funções psicológicas básicas na forma como elas percebem o mundo e interagem com ele:
- Sensação: tudo que é percebido pelos sentidos;
- Intuição: percepção inconsciente;
- Pensamento: relacionado ao conhecimento intelectual e formação lógica de conclusões;
- Sentimento: avaliação subjetiva.
Sensação e Intuição são formas diferentes, opostas, de perceber as coisas. São irracionais, já que não há necessidade de avaliar ou julgar as situações. Pensamento e Sentimento são formas diferentes, opostas, de julgar as coisas. São racionais, dependem de reflexão. Jung percebeu, ao observar as pessoas, que uma dessas das quatro funções se destaca em cada indivíduo, tornando-se dominante. Uma segunda função assume um papel auxiliar, sendo diferente da primeira mas não oposta a ela. As demais funções, em cada um, têm influência menor e contrapõem-se às duas primeiras. Com as combinações possíveis tem-se os tipos psicológicos, cada um dos quais, com suas características próprias.
Mas no que isso pode nos ajudar no dia a dia? Durante algum tempo tive dificuldades no relacionamento profissional com alguns colegas do marketing. Segundo a classificação de Jung eu sou Introvertido e minha função psicológica dominante é o Pensamento. Aprendi com o tempo que esse é um tipo relativamente comum entre pessoas que trabalham com tecnologia. Observando os colegas com que eu tinha problemas, ficou bastante claro que eram Extrovertidos e tinham Sentimento como função dominante. Isso significa que tínhamos personalidades diametralmente opostas. Enquanto eu sou naturalmente detalhista, perfeccionista, por exemplo, eles eram naturalmente mais agitados e dispersivos. Em compensação, eram muito mais dinâmicos e otimistas do que eu, bem como tinham maior facilidade em se expressar.
Ao aprender um pouco sobre nossos diferentes tipos psicológicos, comecei a entender melhor meus colegas e admirar seus pontos fortes. Passei também a respeitar e lidar melhor com os aspectos negativos de sua forma de ver o mundo. Por exemplo, deixei de enviar a esses colegas do marketing, em particular, relatórios detalhados e emails longos, porque entendi que eles tinham uma dificuldade inata para lidar com esse tipo de coisa. O fato de algumas vezes ignorarem detalhes não era descaso.
Seria útil discutir as características de cada tipo psicológico, mas realmente não dá pra ir à fundo no assunto, num pequeno artigo como esse. Além disso, você deve ter percebido que tecnologia é muito mais minha praia do que comportamento ou psicologia, embora de vez em quando seja bem útil sairmos de nossas “bolhas”. Mas se você ficou interessado, pesquise um pouco mais na web. Você encontrará alguns sites que permitem fazer testes simples pra identificar seu tipo psicológico e bastante literatura que permitirá entender melhor o assunto. Encontrará também algumas consultorias que fazem trabalhos sérios nas empresas, com testes mais complexos e confiáveis que permitem criar perfis detalhados dos colaboradores e workshops que facilitam seu entendimento.
Mesmo sem entender de psicologia ou estudar Jung, o importante mesmo é ter em mente que devemos sempre tentar nos colocar no lugar do outro. Isso tem sido útil em minha vida profissional e talvez possa ajudá-lo também.